... tell me one thing...
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Emigrar é...
"...como esvaziar e ter de encher de novo... é como ressuscitar para uma nova vida... diferente, longe..."
Imigrante brasileira em Portugal, ilegal, pendente da burocracia portuguesa
Imigrante brasileira em Portugal, ilegal, pendente da burocracia portuguesa
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Gokigen yo sayonara
Este caminho
Ninguém já o percorre,
Salvo o crepúsculo.
De que árvore florida
Chega? Não sei.
Mas é seu perfume.
Bashô Matsuo (1644–1694), considerado o primeiro e maior poeta japonês de haiku (*)
(*) O haiku deriva duma forma anterior de poesia, em voga no Japão entre os séculos IX e XII, designada por tanka; tinha 5 versos, de 5 e 7 sílabas, que tratavam temas religiosos ou ligados à corte.
Foto: Vista de Tóquio e Monte Fuji
Ninguém já o percorre,
Salvo o crepúsculo.
De que árvore florida
Chega? Não sei.
Mas é seu perfume.
Bashô Matsuo (1644–1694), considerado o primeiro e maior poeta japonês de haiku (*)
(*) O haiku deriva duma forma anterior de poesia, em voga no Japão entre os séculos IX e XII, designada por tanka; tinha 5 versos, de 5 e 7 sílabas, que tratavam temas religiosos ou ligados à corte.
Foto: Vista de Tóquio e Monte Fuji
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Walking Around
Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas...
Pablo Neruda
Foto: Olhares.com
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas...
Pablo Neruda
Foto: Olhares.com
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Silêncio...
"Por isso a segunda-feira arde como o petróleo
quando me vê chegar com esta cara de cárcere
e uiva no seu decurso como roda ferida,
e dá passos de sangue quente em direcção à noite... (*)
... segunda-feira... dica para bom cinema... "4 Meses, 3 Semanas, 2 Dias", Romênia, 1987, pleno comunismo... cru, planos estáticos, mal-estar, vidas sórdidas, momentos decisivos, emoções "abortadas"... "na vida real é muito pior", confirmam alguns. A vida real também é muito melhor... (espero)... "o que farias se estivesse grávida?!"... silêncio...
Silêncio...
(*) Neruda
quando me vê chegar com esta cara de cárcere
e uiva no seu decurso como roda ferida,
e dá passos de sangue quente em direcção à noite... (*)
... segunda-feira... dica para bom cinema... "4 Meses, 3 Semanas, 2 Dias", Romênia, 1987, pleno comunismo... cru, planos estáticos, mal-estar, vidas sórdidas, momentos decisivos, emoções "abortadas"... "na vida real é muito pior", confirmam alguns. A vida real também é muito melhor... (espero)... "o que farias se estivesse grávida?!"... silêncio...
Silêncio...
(*) Neruda
domingo, 20 de janeiro de 2008
Andar aos círculos...
Desço, compro o jornal, folhas de papel a anunciar um mundo enlouquecido... escondo-me no parque em frente, não à minha janela, mas à porta de saída... gosto de começar pelo fim, as últimas páginas, mania de quem tem pressa, não saber esperar, ou folhear aos poucos, no ritmo indicado, na ordem indicada, por números... toda a vida indicada por números... a idade, o pior deles... não... pelo menos com o meu jornal, deixem-me começar de outra forma... começar depois de uma noite de tertúlias... "saiu para passear com a esposa", não fosse este o grande disparate da noite... disparate é viver... disparate são os finais felizes... será que ainda existem?!
Gosto de me sentar ao sol, onde estão os bancos mais concorridos... casais, casais com cães, casais com filhos, os não casais, os ex-casais, o jornal e eu... o casal perfeito... pelo menos nesta manhã de domingo. Gosto também de olhar para as ávores... caladas... não há vento... como eu... não há vento... não saem do lugar... como será passar toda a vida num único lugar? ser sombra para os que passam... vão e voltam? volto ao jornal... distraio-me a olhar uma senhora, cabelos brancos, óculos no nariz, bengala na mão, vem sozinha... a segunda vez que passa por mim... anda aos círculos...
Entre as árvores imóveis e a senhora que passa... volto às folhas, não das árvores, mas do jornal... são tantas... mais do que o número de anos de uma vida... talvez... chego ao início, por fim... sempre bom voltar ao início... recomeçar e escolher novos círculos... o vento há de cuidar destas árvores... o tempo há de mostrar o caminho...
Gosto de me sentar ao sol, onde estão os bancos mais concorridos... casais, casais com cães, casais com filhos, os não casais, os ex-casais, o jornal e eu... o casal perfeito... pelo menos nesta manhã de domingo. Gosto também de olhar para as ávores... caladas... não há vento... como eu... não há vento... não saem do lugar... como será passar toda a vida num único lugar? ser sombra para os que passam... vão e voltam? volto ao jornal... distraio-me a olhar uma senhora, cabelos brancos, óculos no nariz, bengala na mão, vem sozinha... a segunda vez que passa por mim... anda aos círculos...
Entre as árvores imóveis e a senhora que passa... volto às folhas, não das árvores, mas do jornal... são tantas... mais do que o número de anos de uma vida... talvez... chego ao início, por fim... sempre bom voltar ao início... recomeçar e escolher novos círculos... o vento há de cuidar destas árvores... o tempo há de mostrar o caminho...
Foto: Olhares.com
sábado, 19 de janeiro de 2008
Quantos lados tem uma janela?
Paredes brancas encardidas, acabamento tosco, alguns móveis, muito lixo (daqueles que se acumula não se sabe porque... recordações), fotos penduradas por aí... mais recordações... tenho a vida toda dentro de malas... que nunca consigo desfazer... talvez para ter a sensação (ou a ilusão) de que estou pronta para ir embora... livre... despida do que quer que seja... (apesar de toda a roupa dentro das estúpidas malas)... a qualquer momento... Por que é tão difícil ir embora?! não apenas para qualquer outro lugar, mas para qualquer outra vida, vidas, tentativa, coração, armadilha, aposta, estrada...
E lá se vai outro avião... gosto de ver as suas luzes piscando... quando o dia começa a cair... E lá se vai outro dia...
E lá se vai outro avião... gosto de ver as suas luzes piscando... quando o dia começa a cair... E lá se vai outro dia...
Prólogo... de um mundo quadrado
Há 15 meses e 19 dias, tenho estado mais do que tempo num quarto, de onde passei a ver o mundo... através de uma janela do 10º andar... um mundo que se tornou quadrado... 16m2, meu mundo aqui dentro... até os dias em que resolvo estender a cabeça para fora da janela... poucas vezes, confesso. Daqui... vejo pouca (ou muita) coisa... uma escola para os miúdos, um cemitério de carros, um buraco (com um eficiente meio de transporte por lá), um pedacinho do aeroporto, e muitos, muitos aviões a descer e a subir... alguns prédios, alguns mais novos, cheiro a novo... casas velhas... lixo... uma estrada... e muitos carros a descer e a subir... paragens de autocarro.... e gente... a descer e a subir... uma enorme faixa num prédio em construção: "Nova vida na cidade", diz...
E não é coisa suficiente para toda uma vida... que me passa a frente... poderia me perguntar? sim... a estrada, levantar vôo, gente, casa, o passar dos carros, o lixo e, por fim, o cemitério... a ordem das coisas somos nós quem a damos... pelo menos aqui... posso ter esta ilusão... Mas esta "vida" nova na cidade... já não me basta... ou nunca me bastou...
Quero ver de outras janelas, com outros olhos... não só com os meus, mas com os teus também... empresta-me os teus olhos? quem me pudesse emprestar os olhos, e as veias, e o sangue, e os pensamentos, e o coração, por fim... Estendo-me na cama, deste lado de cá da janela, tento virar para o lado... o das paredes sem luz, não dura muito... logo me volto para ele... este mundo quadrado, de novo... sempre...
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