terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Acordar, Viver, Novo, Velho, Mudar...

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimentoque lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.


E para 2009?

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo,
eu sei que não é fácil, mas tente,
experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

sorriso

adoro-te

Eu sinto...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Quando um pedaço de mim...

Morreu.
Haverá vida depois da morte?
Morre-se de muitas maneiras, todos os dias, todas as noites.
Viveu.
Haverá vida depois da vida? Aquela vida...
Just an illusion.

"As coisas que não conseguem ser olvidadas
continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez, sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as datas não datam.
Só no mundo do nunca existem lápides...
Que importa se – depois de tudo – tenha "ele" partido, casado, mudado, sumido, esquecido, enganado, ou que quer que te haja feito, em suma?
Tiveste uma parte da sua vida que foi só tua e, esta,
"ele" jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que, ao contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente e não do teu passado.
E abrem-se no teu sorriso mesmo quando, deslembrado deles, estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever
disse, há cento e muitos anos,
um poeta inglês que não conseguiu morrer."

Mário Quintana

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

inútil...

Cada día pienso en tí
Pienso un poco más en tí
Despedazo mi razón
Se destruye algo de mi
Cada día pienso en tí
Pienso un poco más en tí
Cada día pienso en tí
Pienso un poco más en tí
Cada vez que sale el sol
Busco en algo el valor
Para continuar así
Y te veo asi no te toque
Rezo por ti cada noche
Amanece y pienso en tí
Y retumba en mis oidos
El tictac de los relojes
Y sigo pensando en tí
Y sigo pensando….

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sputnik, meu amor...

"... no fundo não passávamos de dois pedaços de metal, traçando cada um a sua órbita... cada um de nós navega sozinho sem destino certo, prisioneiro na sua própria CÁPSULA. Caso a órbita desses dois satélites se cruzassem, poderíamos então encontrar-nos. Talvez até abríssemos os nossos corações, mas apenas por um brevíssimo instante. No momento seguinte, voltaríamos a mergulhar na mais absoluta solidão. Até começarmos a arder e ficarmos reduzidos a nada..."

Haruki Murakami

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Se estivesses aqui... descalços...

...hoje é dia de coisas simples
(Ai de mim! Que desgraça! O creme de terra não voltará a aparecer!)
coisas simples
como ir contigo ao restaurante
ler o horóscopo e os pequenos escândalos
folhear revistas pornográficas e
demorarmo-nos dentro da banheira
na ladeia pouco há a fazer
falaremos do tempo
com os olhos presos dentro das chávenas
inventaremos palavras cruzadas na areia...
jogos e murmúrios de dedos por baixo da mesa
beberemos café
sorriremos à pessoas e às coisas
caminharemos lado a lado
os ombros tocando-se (se estivesses aqui!)
em silêncio olharíamos a foz do rio
é o brincar agitado do sol nas mãos das crianças
descalças
hoje...

Al Berto (Doze moradas de silêncio)

Descalços... ontem... ontem de há muito...